Friday, May 12, 2006

Públicos da/na Culturgest

Realmente vivemos num país estranho. Ontem à noite, durante o espectáculo de dança Heroes, de Emmanuelle Huynh, testemunhámos reacções deveras estranhas por parte do público, ou públicos presentes. Ou melhor, pareceram estranhas mas após uma reflexão breve são normais, pelo menos vindas de pessoas que parecem não estar ao corrente do que devem esperar do espectáculo a que vão assistir. O esforço dos intérpretes na construção de personagens comprometidas, numa performance assumidamente interventiva, foi brindado frequentemente com risos. Ora, gostaríamos aqui de informar que este não era um espectáculo de stand up comedy, para tristeza de muitos presentes e espanto de tantos outros. Curiosamente, fez-nos recordar um docente que há longos anos defendia que o riso tem origem na ignorância (agora reconhecemos que talvez tivesse razão).
Grândola, Vila Morena, teve honras de encerramento e causou mais um momento de estranheza protagonizado por um espectador que vaiou o elenco, culminando num xenófobo "Vão para casa", o que gerou uma reacção de um jornalista histórico do DN presente na sala. Mais uma vez, parece-nos que esta atitude resulta de uma absoluta ignorância. Se o senhor se tivesse dado ao trabalho de se informar sobre o espectáculo a que foi assistir, perceberia que fazia sentido e não era completamente despropositada esta intervenção. Aliás, mesmo sem saber ou perceber devia ter-se abstido pois apenas demonstrou uma enorme falta de respeito pelo trabalho dos outros e mesmo pela democracia. Poderiam dizer-nos que estamos num país livre e democrático, o que não se põe em causa obviamente, mas a nossa liberdade termina onde começam os direitos e liberdades dos outros e a há uma ética na actividade cultural que deve ser respeitada pelos públicos, um dos agentes nela envolvidos.
Curiosamente, este desprendimento e desconhecimento dos públicos em relação ao evento cultural não nos é estranho em outras andanças na Culturgest. Será uma questão de status? De hábito? Ou talvez apenas a peculariedade do nosso pequeno rectângulo a manifestar-se em situações incomuns.

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