"Viajar pelo mundo com Camões e Pessoa no bolso"

"A qualidade artística de um passaporte era uma ideia estranha até Henrique Cayatte começar a pensar num novo conceito para o velho documento. Hoje, o designer apresenta aos portugueses um casamento perfeito entre a arte, os constrangimentos do objecto e as questões de segurança que se impõem."Luís de Camões e Fernando Pessoa como símbolos que atravessam a História e as fronteiras" são a marca que destaca o novo passaporte dos seus antecessores, diz Henrique Cayatte. Com a contribuição de Júlio Pomar - que cedeu os retratos dos dois poetas -, o documento "fala de cultura e da língua portuguesa, mas não de um ponto de vista da epopeia, do passado, mas virado para o futuro".Da inclusão de símbolos nacionais à recriação gráfica do passaporte, Henrique Cayatte fez tudo. Deixou de fora símbolos bélicos e incluiu as quinas e uma pomba de Júlio Pomar que pode ser vista a contraluz, porque "Portugal quer passar uma imagem de paz e de cultura e de que é por esse lado que se afirma". O documento vem demonstrar que "Portugal está neste mundo da globalização mas não perde identidade". A similitude entre as rotas das descobertas, as da imigração e dos satélites de Internet foi também aproveitada por Henrique Cayatte no processo de criação gráfica do passaporte. "Reparámos que eram muito semelhantes e usámo-las para construir o conceito", explica. Usa o plural porque chefia uma equipa de cinco pessoas que durante os últimos meses se dedicou ao projecto no seu atelier.
O papel e a capa do novo passaporte apresentam elementos distintivos e de segurança. Assumem especial destaque a marca de água em todas as páginas do caderno representando o escudo nacional, bem como, na capa, a impressão do símbolo identificativo do passaporte. Em tinta invisível, há elementos que simbolizam a República Portuguesa, a União Europeia e a qualidade de documento electrónico. Para Henrique Cayatte, o novo passaporte traz ainda a vantagem de não ter imagens "que criem problemas noutros países e latitudes". "


Ângela Marques
Diário de Notícias, 18.04.2006