Tuesday, October 31, 2006

Backstage II

Foto: lecadavre

Da vida

Li ontem uma entrevista na revista Pública do passado domingo ao António Lobo Antunes. Correndo o risco de parecer estar num processo de fixação (pois já falei do escritor num post anterior), gostaria de falar sobre a razão da minha admiração por esta figura incontornável.
Sempre gostei de escrever.
Desde a minha infância que sonhava fazer deste métier o meu mas de forma digna. Abomino todos os que se dizem escritores mas publicam coisas inomináveis e intragáveis. Por isso, já há alguns anos que repensei esta faceta – porque considero que não possuo o que é necessário para fazer um excelente trabalho, digno de pessoas que me fazem respeitá-lo. Para onde se canalizou então a minha vertente estética? Não dominando, também, técnicas físicas, gráficas e musicais, a solução tem sido a fotografia. Numa atitude de recriação, observação voyeuriste, de certa forma canibalizante, esta actividade permite-me exprimir os anseios estetas não cumpridos por via literária. Mas, embora me dê alguma satisfação, a fotografia não consegue afastar a sensação de sufoco quotidiano que pauta os meus dias cada vez mais melancólicos.
A inadaptação a um ambiente detestável de incompetência e ignorância não me deixa respirar convenientemente, impede-me de viver, de pensar, de criar, até mesmo de trabalhar com a qualidade que sei ser capaz de produzir. É algo que não consigo evitar. Mesmo que tente ignorar, é de tal forma avassalador que não consigo ultrapassá-la. Ainda mais grave é sentir que, algures no meu percurso, fracassei por completo.

Monday, October 30, 2006

Hoje...

está um dia neurótico...

Backstage

Foto: le cadavre

Friday, October 27, 2006

Lobo Antunes


Ontem à noite António Lobo Antunes foi a personalidade principal da ‘Grande Entrevista’ com Judite de Sousa. Por estranho que pareça, e apesar da experiência que esta jornalista tem, tive a sensação que estaria nervosa, como poderia ter estado na primeira entrevista que alguma vez realizou. Não admira que assim seja. Lobo Antunes é homem de poucas palavras (e poucos amigos também, como repetiu incessantemente, à laia de verdade libertadora), olhar errante, postura tímida, difícil de filmar e talvez mesmo de encarar.
Mas esta é apenas uma divagação relativamente ao que interessa. Le cadavre admira incondicionalmente este escritor. Porque se encontra a um nível superior em termos estéticos e poéticos. Porque não cede a facilitismos e não deseja agradar a ninguém. Porque tem uma visão única da escrita. Porque é possuído e não possui as suas obras. Porque as liberta no momento em que as termina. Porque é dono de um sentido crítico deveras apurado e raro neste país. Porque tem uma forma encantadora de desprezar o que não lhe agrada.
Porque poderia continuar durante algum tempo a enumerar razões...

Tuesday, October 17, 2006


Owen Pallett, violinista, cantor e compositor canadiano, foi responsável pela noite de fantasia melódica e visual que se realizou no domingo passado. O Club Lua recebeu o projecto a solo deste músico, autor dos arranjos do álbum de estreia dos Arcade Fire. Violino, pedais ligados a samplers e um projector foram suficientes para criar uma atmosfera onírica, cujas estrelas foram as melodias de "Has a Good Home" (2005) e "He Poos Clouds" (2006), devidamente recriadas com trechos gravados no momento. Imaginários de contos de fadas e fantástico fundiram-se com acordes dissonantes e investidas vocais num espaço que não poderia ser mais incoerente com o tom do concerto.

Wednesday, October 11, 2006

Booker Prize

Monday, October 02, 2006

Animatógrafo

Este post é cópia de um outro que podem encontrar aqui, bem como muitas outras coisas, deveras interessantes...

"Young People, Old Voices
Eu sabia, à partida, que eram três horas. Também sabia que Raimund Hoghe foi um dos meninos queridos de Pina Bausch durante uma dezena de anos, funcionando como dramaturgista da alemã. Mas não estava minimamente preparado. Nunca estou. Raimund Hoghe é um personagem estranho: praticamente anão, corcunda, encaixava na perfeição num filme de David Lynch. No início Raimund centra-se no palco e chama os seus bailarinos, um por um, pelo nome. Todos respondem ao apelo e apresentam-se frontalmente. Estão ali. E depois tudo foi um deambular pela noção de tempo. O pano de fundo é Stravinsky, mas Jacques Brel, Bette Davis ou Léo Ferré aparecem a espaços. E a hora e meia em que lá estive foi um lentíssimo espaçar dos corpos. Hoghe não trabalha sobre o corpo, mas sobre a sua manutenção no espaço e no tempo. Hoghe não se preocupa com a expressão pelo movimento, mas com a interacção dispersa entre os corpos, numa languidez desesperante. Young People, Old Voices é profundamente críptico, mas o seu pecado original não é esse (também Lynch se esconde atrás do filme, e não é por isso menor). O problema está na porta fechada. Em momento algum a mesma se abre ao espectador. De forma nenhuma o espectador é convidado a entrar no mundo imaginário que de certo se constrói na cabeça de Hoghe. E portanto as três horas do espectáculo (pelo menos a hora e meia em que lá estive) nunca passam o patamar de corpos em movimento terno mas exasperante, deixados a divagar pelo palco, gratuitos na sua existência. Nem tão pouco, e isso podia ser a salvação, almejam qualquer tipo de abstraccionismo ou indução mental do mesmo. Estão ali, são young people, à sombra de old voices. Uma desilusão plena de sono."